O futuro da nossa saudade em qualquer reveillon


Mais um ultimo dia que antecede o recomeço, e nele sonho a perfeição ondulada em prata dos teus cabelos. O sono tarda como quem se sentou num banco da escola nova de nome, pobre de portas. Faço pausas a janela ouvindo as finas vozes e os arrepios de toque de um violão. É Recordai de anos passados e de repousos no rendilhado das estórias sobre teu colo.

Preces de sanidade, de bondade e imensidão. Vontade de tudo que caiba num dia com menos noite, com ondas bravas e saltos num palco padrão.

Em Janeiro vou  abrir as portas enrolada no florido de qualquer lençol, fincar os dedos na areia dourada que não se comoveu e, talvez me dispa sobre a pedra aguçada e grite a esfarelar o chão.

Em Março ei de ouvir a brisa sobre o pontão, ou versejar em qualquer margem que abrace o Tejo. Tracejar abraços num silencioso Beco do Carrasco e rir com gozo do choro doce que é ter passado.

Tudo é saudade dos teus dias que apagaram, e das horas que se empurraram. De um bom tempo de outros amigos, outras fitas e passos corridos. Dos conselhos quebrados e futuros prometidos. Das aspirações que cantavas a soprar meu nome.

Talvez chegue a Julho  com orgulho, com poucas rimas e folhas empilhadas, soltando as frases que guardavas. Há de chover no rosto, e nas ruas estreitas em que correr, os louvores da memoria da data e ilha que te viu nascer.

O novo exige que se beije, dance e brinde, e em Agosto talvez os roube ao amor que calhar. Pedirei frutos de cheiro adocicado, palavras argutas e promessas sem pestanejar. Os discursos hão de fluir retumbantes entre gestos de bailarina, agudos timbrados e opinião balanceada. Desfilaremos de livro, com palmas pintadas de compromisso e um sorriso…talvez até reinvente o teu riso.

Setembro virá de barco com santa ao leme, escamas em quadros de vidro, estrelas emparedadas, e conversas no cais. Terá grutas abandonadas, crateras alagadas e gentes da nossa alvorada… uma fogueira e muitas noites para recordar! Setembro terá cheiro de sul, de barro empilhado ou sal de saudade. Será como a velha mania de discutir cinema na praça.

Os Grilos tontos, vão cantar em silêncio em Novembro, pelo nosso Outubro que estarei a apagar.  Trocaremos as pautas por filosofia estudada, teses ambiciosas e notas de rodapé. A bravata ficará entalada na sofreguidão de um novo acto. Seremos sós em Dezembro: tu extinta, eu de microfone na paixão, e uma carta a pedir regresso pelos anos que nunca foram em vão.

Tudo passa, ainda que o desconheças…é amanhã em qualquer sopro, ventania ou esperança recontada…vamos contar os fogos e esperar. Abraça com carinho as nuvens enquanto eu estiver a pensar.
in memorium
A. Berta Tavares




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