Enquanto mais um dia demora em chegar...
O zumbido da noite era perene e incessante, tinha garras afiadas como se o
vento reproduzisse um milhão de animais.Nessa escuta isolante a criatura sem
natureza fechava as portas as maravilhas de um mundo acima.Nascido para não
saber viver se dizia, ausente todos os dias se reproduzia.Aos olhos de alguém
fingia que era alegria, e nela regredia. Não era uma noite qualquer, apenas o
imitar de mais um longo dia.Nesse escuro em fio, um arrepio sem frio, uma
angustia deslumbrante, dessas que arrastam for;cas e apagam o desafio.
Horas contadas, perdidas sem serem cantadas, esquecidas de luzes, fechadas
em mil portadas.Era mais um dia a tardar de chegar, para afagar a morta que
sustentava o lugar.Olhares vagos, paredes nuas, peda;cos de gente chegando as
ruas...Mais um grito contido,mais um segundo mantido, vivo latido, no peito um
continuo escondido.
As teclas da noite insistiam em musicar:Uma melodia bramido, um canto
rebuscado, o som de um ferido, uma flauta a chorar!Era a arte apressada,
enjeitada, ajoelhada a orar...Mil papeis, cem odores, nenhum rosto a corar.Era
a tristeza vazia, desconhecendo a nostalgia...Incerta ironia, sem motivo para
gritar.
Estica o dedo e recolhe, fenece no medo de não mais parar. Sente a arma
ausente, o fel a língua a esmagar.Perde tempo. Perde mais uma noite bem
devagar...Num segundo tem a pele a estalar, no outro uma for;ca distante estaciona,
acende e promete um eterno embalar.
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