Crónicas de Retardo


As estradas que asfixiavam estavam seladas no asfalto novo com dez anos. Eram memórias dos pedregulhos e mulas a despencar do alto de um monstro rochoso. Gente mal dormida na boleia do Hiace inflacionado ao estrangeiro de outra ilha, e do nacional das milhas invertidas. E assim se erguia a madrugada da vitoria dos tolos, das promessas refogadas e dos projectos ambiciosos. O dia, esse esperado na luta, amanhecera malcheiroso como o sovaco de 3 defuntas. E elas iam todas juntas no banco da frente, catando sementes de cayeana no fundo de um copo, engolindo gelo derretido e choramingando pelos amigos.

A visão torpe dos novos tempos, em que se é mulher bendita de microfone em punho e poucas pilhas no saco. Dessas que esqueceram de amar para serem melhores, e que vão inventar uma estoria para contar ao neto que não embalaram. Labuta, pura dura, sem salto e saia rodada. Sem frágil vontade ou mendigar de calças de meia-idade.

Tudo imaginado, tudo sede de ver a sede pelas costas. De perder de vista um amarelo fingido, um vermelho esticado e um branco velado. Sede de cruzes em quadrados e votos contados, de discursos menos ousados e mentiras mais realizadas. Era dia, de preces de 5 mil e tal a descumprir na reacção antecipada; de sangue a pingar num punho fragmentado. Fotos de editais. Éditos de Édipo e Jocasta. Famílias abstemias de riso e casais a cata de enguiço. Era dia de chorar Chiquinho nas pedras armazenadas, e lembrar elevadores para os encravados.

Era dia de sémen nas palavras e nenhum rebento pronto. De uma música inflada a meia-noite da vitória sem dono. Socos e tropeços que não vi, algum sangue no porvir. Lutas predestinadas, talvez magoas e contar de tostões. Ganhamos um arco descolorido na iris, uma plebe acanhada e estuporada. Dessas que estilhaça os todos os ovos num frigir de ambição   e morre a mingua nos próximos carnavais.

Renovamo-nos, curvamo-nos ou vamos nos embebedar por mais umas quantas gerações? Seremos os cabides de baixo, ou as potras soltas a cata de casaca e casaco acolchoado da pele de algum humano súbdito?

Vou apalpar o mute, rezingar com o off, talvez desligue mesmo a tv!

Se choverem reis magos no natal, enrolaremos as fitas e caixas que sobrarem, reciclaremos o humor…assaremos carneiros ao invés de perus.

Vamos dar banho as defuntas e ao pressagio que estenderam… amanhã ainda é muito de ontem e do que os velhos nos recontam.

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