Meus irmãos ou filhos meus?



Era um mimo de menina
Vivia na  rua de portas brancas avessas a esquina
Tinha olhos grandes a amargar da faxina
Unhas sujas marcadas de garra felina.

Foi na tarde escura
A beira da celha de lou;ca dura
Que conheci a Fatina
Envolta em espuma
Expulsando a gordura

Era deveras um mimo
A beleza envolta em sujeira um hino
Não tinha companheiro menino
Desconhecia a doçura de uma travessura

Tinha filhos de dois e quatro
E aos 12 nunca tivera o próprio quarto
Mas sorria ternura
Entre trapos e latas vivia a sua aventura.

Na pobreza o sorriso engrandecia
Ela ignorava a adulta cobardia
Cumpria a culpa
Da ausência da mãe resoluta
Do pai relapso
E a avo impoluta.

Emprenhara de filhos que não pariu
E sorria agoniada da dor que ninguém viu.
Ser adulto em criança
Abraçar a desesperança
Esquecer do intelecto desafio.

Lhe doíam as costas
Assim perdia as apostas
No recreio a fadiga
Na sala de aula a hora  dormida
No lar o sonho de ver comida.

Numa hora apertada
Entre o breu e a alvorada
Fez-se a rua ladina
Foi limpar latrina
Enamorou-se do pomposo ardina.

Ja pensava a Fatina
 fugir e fazer vida fina
Quando o velho patrão
Lhe pegou maldição
Uma semente no bucho
De um  Tenente bruxo
O ardina esqueceu a donzela
A menina perdeu os olhos de flor bela
Renegou os seres da historieta de costela.

Se desconhecia capítulos e paginas
Nunca mais as viu
A bruxa contente
Da latrina reluzente
Também a despediu

Nem tostão nem retalho
Apenas cartas fora do baralho
Saudades do pai que nunca viu
Da  genética incubadora
E da praga que a pariu.

MCTavarlos
Abril de 2014

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